domingo, 16 de dezembro de 2007

Um Caminho para Niterói a propósito dos 100 anos de Niemeyer

Daqui a 100 anos lembraremos que Niterói construiu o Caminho Niemeyer. Daqui a 100 anos, lembraremos tudo que um dos últimos mestres da Arquitetura Moderna realizou e ainda realiza. Daqui a 100 anos, o aquecimento global terá alcançado níveis que farão os mares subirem? Daqui a 100 anos precisaremos de arqueólogos especializados nas cidades pós-modernas? É difícil pensar nos possíveis caminhos para Niterói. Mas não é pelo menos sensato escolhermos nosso caminho?

Arqueologuemos, então. Niterói significa, em tupi, águas escondidas. É... os nomes às vezes podem nos conduzir para caminhos nunca navegados e, como diria o poeta, “navegar é preciso”. De certa forma, vamos navegar de qualquer jeito. Ironias à parte, o que nos falta é nosso significado, não nosso significante.

Daqui a alguns anos como estaremos? É... não dá pra afirmar, vamos só especular. Na avenida Roberto Silveira não passarão mais carros. A estrada Francisco da Cruz Nunes ficará engarrafada do Largo da Batalha até o ponto final do 46, em Várzea das Moças, por causa do trânsito de Maricá. Itacoatiara estará cercada de condomínios e seu acesso, limitado pela guarda municipal. Ah... Pendotiba não respirará mais o ar fresco da manhã, nem terá mais uma temperatura amena. A propósito, teremos o IPSA (Imposto Provisório Sobre o Ar). Não faremos mais distinção entre Fonseca, Barreto e São Gonçalo. Cubango, que significa barreira, não terá mais função. Qualquer chuva, em qualquer lugar, significará inundação. Nossas favelas não se resumirão ao nosso município, serão internacionais. Exportaremos pobres em embarcações especializadas parecidas com contêineres.

Pois é! Em 434 anos evoluímos para essa possibilidade de futuro. Nós somos isso! É nossa responsabilidade e, sendo assim, não importa que Araribóia tenha traído os índios em favor dos portugueses. O que importa é que esse é o mito fundador das águas escondidas e, mais, que “arari” significa tempestade.

Foi ouvindo a letra de um funk: “Ih, choveu! Cabelo encolheu todinho...”, que percebi que esse “I”, além de significar “água”, possui entonação que lhe atribui uma expectativa pela água que vai cair do céu. Logo, me parece correto não perder a “chapinha” e se esconder. Meu chapa, é disso que estamos falando: previsão, prevenção, planejamento... De uma forma ou de outra, a chuva virá e as conchas das colinas - os sambaquis - devem ser protegidos. Não estaremos protegendo só os índios, mas a nós mesmos, como a menina do funk que quer ter o direito de se achar mais bonita e como as nossas favelas, que não querem ser senzalas, querem ser quilombos.

Por que insistir nos mesmos erros? Por que reinventamos a roda? Pois mudanças no trânsito sobre as mesmas bases não são mudanças. Ao mesmo tempo que proíbem o transporte alternativo por interesses das empresas de ônibus, não esquecem o preço da passagem. Por que o MAC espelha a imagem que queremos, como a chapinha da menina? Por que temos que impedir os trabalhadores ambulantes de vender na água sagrada, Icaraí? Por que nosso centro histórico está cada vez mais esquecido? Por que nossos cinemas fecham? Por que nossos resíduos vão para um lixão já datado e nossa conta de água e nosso IPTU só aumentam sem a menor justificativa?

Em que medida permitimos que essas coisas aconteçam? “Tupi or not tupi”, eis a questão: o que nos unifica nessa grande pedra rachada, Itapuca? O que nos faz água-escondidos? Contra o que estamos lidando?

Pois bem: contra quem explora o trabalho; contra quem polui os rios e mares; contra quem proíbe o trabalho; contra a inércia do hábito e dos costumes; contra quem sobretaxa os trabalhadores; contra os que impedem o direito de ir e vir; contra a especulação imobiliária e as autoridades que a protegem; contra os tabus e a superstição... Por fim, esse é um bom passo, para começarmos a percorrer nosso caminho: a reconstrução do público, do saber popular, do direito à moradia, ao trabalho e à educação. Portanto, o direito à cidade. Pois passos isolados não formam caminhos e, como há uma “pedra no caminho”, Niterói precisa trilhar o seu para que no futuro possa comemorar não só as obras de Niemeyer, mas seus sonhos.

Publicado no Jornal Esquerda n. 4, Dezembro de 2007

terça-feira, 9 de outubro de 2007

prum aperto

Longe de toda ação
aperto tudo assim.
Toda declaração
tudo por isenção.
Tudo prum só comício
talvez um certo min-
imalismo de fin-
alidade de ação.
Tudo prum só início.

Longe de todo aperto.
Tudo longe de mim.
O que sempre for certo,
sempre que for incerto,
tudo num só princípio.
Não muito perto assim
aquilo que for fin-
alizar todo conserto.
Concerto prum aperto.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

esparramando

esparramando

acordei
ruminando a noite passada.
não preguei o olho
agora o olho me pregava.
Sem saber nada do que se passava
comigo ela teve amizade.
Agora o olho me pegava inventando verdade.
Dormi. Digo, deitei ainda sujo. Sujei
esparramando na cara
agora o olho me pregava
uma peça rara

a noite passada ela me deixou mulher
ele mulher me invadiu noite passada

lacrimejava
ruminando aquela noite
não preguei o olho, mas não quer dizer nada
estava intoxicada, ainda suja. Sujei
toda sua cara
agora meu olho te pregava
o homem a meu lado sonhava
acordava e se deixava largada
sozinha
na cama
esparramada

meu olho se abria
ele me deixava ela me seguia.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Stop a vida parou...

Stop a vida parou...

Um avião certo dia
Num edifício bateu.
Todos ficaram parados,
porque o milênio nasceu.

Cinza. Carvão e diamante
do chão ao pó nom instante.

Stop que a vida parou
outro avião colidiu.
Todos ficaram chorando
e o Bush apenas sorriu.

Quando a poeira subiu
e Nova York sumiu.

Os Talibás se esconderam
entre os irmãos Afegões.
Não encontraram Bin Laden.
Bush mandou aviões.

Quando a poeira subiu
Pelo deserto sumiu

Pouco ficou do afegão.
Na sua trincheira imóvel.
Até sua memória levaram
o que dizer do automóvel.

Entretanto a vitória
vem reforçar nossa história.

Bush invadiu o Iraque
a Terra em transe ficou.
Sadã perdeu enforcado
no dia em que Terra parou.

O dia que tudo sofreu
porque o milênio morreu.

Um avião certo dia
Stop que a vida parou
Até sua memória levaram
no dia que Terra parou

Do chão ao pó num instante
Petróleo é diamante.

Porque o milênio nasceu?
Quando a poeira desceu
Todos ficaram chorando
O dia que tudo sofreu

A Terra em transe ficou
Stop que a vida parou:

...ou foi o avião?

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Fábula da rolha

Fábula da rolha

O que entendo da vida se anuncia
planos, ensaios, ciúmes... prepotência
é tudo que inicia sem conseqüência
e aquele que duvida renuncia.

Usar tudo. Explorar com imprudência
Usá-lo, o cotidiano, a denuncia
entretanto se usar da impotência
usar as coisas como pronuncia.

A renúncia é escolha se invertida!
A duvida renasce. Uma escolha.
Segunda escolha: É sobrar saída.

Futuro é o sonho de quem olha
o presente enquanto forma de vida.
Entre o futuro e a escolha: Uma rolha.

geração espontânea

geração espontânea

de um meio
medo que veio
de um medo
meio de mim

meu medo
veio do meio
de um veio
mesmo assim

de um veio
medo de sim
-plesmente em
veio de mim

eu não estou
mais afim
de um viveiro
atrás de mim

terça-feira, 4 de setembro de 2007

de um meio medo em mim

de um meio medo em mim

Saber o que queremos, sem possuir
alguma relação com o que somos,
distorce o que pretende construir
a nossa ousadia. Nós a sós amamos!

Na imaginária busca da paciência
criamos tudo enquanto somos vida.
Cristaliza-se nossa consciência.
Só ousa-se amar quando há saída.

Variações... vaidades... de que o receio
de se amar decida nosso medo,
que é o sobressalto de um segredo.

Ao passar criamos, sós, um arremedo
além de se amar, deseja o amor, que veio
dividir a ousadia de qualquer meio.

do nosso lado

do nosso lado

A esmola explora nossa história,
pois é tão loca, quando a olhamos
e justa quando se é vitória.
Sim. Dê os versos como amamos.

Sim. Chegue perto. É verdade...
que é loucura dar saudade,
pois se é mentira, é masmorra,
Encare a carne até que morra.

A esmola explora nosso orgulho
Masmora em pé e sobre entulho.
Sim. Dê-me a carne e vá calado...

Encare a esmola como sorte.
Encare a carne já que a morte
está sorindo ao nosso lado...

Retrato dissonante

Retrato dissonante

Por detrás das agruras do destino,
incondicionalmente se atrapalha
em avançar pra próxima batalha,
porém nossa bandeira entoa o hino.

Flagelados procuram seus pedaços
de destinos voando pros espaços.
A desvendar a agrura, uma sutura.
O fogo queima a pela, uma fritura.

Pela continuidade ecoa apolítica:
dos pedaços largados isolados;
dos urubus comendo carne crua;

dos fantasmas perdidos e sem crítica;
por detrás das agruras dos coitados,
a menina, sozinha, corre nua.

domingo, 2 de setembro de 2007

de onde nascem as almas?

Ah! Se eu entendesse sobre o medo,
logo nada seria proibido.
Na insônia sofreria perdido,
a investigar esse segredo.

A alma teme o seu restante,
como sonâmbulo acordado
– bússola magnetizada –
fim de tudo tornou-se errante.

Labirinto de tramas sem
fim... O tempo na minha palma,
que como as verdades, renascem.

A morte do tempo te acalma.
Lugar que as finitudes nascem
Próximo da cova de uma alma

sábado, 1 de setembro de 2007

Compor ação

Compor ação

Nestes versos sem compromisso,
sou só mais um dos maltratados.
Há vozes por todos os lados,
cantando um refrão quase omisso.

Quando versos sofisticados
blindam o discurso da ação,
Basta criar um som, canção,
entre todos os mutilados.

O que me basta já não basta.
Preciso de um coração.
A taquicardia já gasta

a procura da multidão
sempre suja, se mantém casta,
perdida nessa agitação.

Bêbado de mim

Bêbado de mim

Há vozes por todos os lados...
Gritando por todos os cantos...
Há cantos por todos os gritos...
Ao lado de todas as vozes.

Quero escrever sobre o que sinto.
Me embreagar pela madrugada,
chutar as pedras do caminho,
que persistem dando risada.

Cambaleando minhas pernas,
vomitei aquela alegria,
surgindo em mim os meus invernos.

Portanto me inspira ousadia,
calando essas vozes ternas...
hipotética valentia.

domingo, 19 de agosto de 2007

O relevante de ir pra escola.

O relevante de ir pra escola.

Irrelevante.
como se algo pudesse ser ensinado
sem que você queira. E sem que quem ensina
queira aprender. É tudo uma farsa
faça, obedeça. Esqueça – esquece.
São os sonhos dos outros. Jogos. Mortos
Vivos! não sonham. Acorda – aquece.

Amanhece.

Mais relevante que o começo do jogo
são os bastidores. Tambores. Apitos. Aque-
cimentando gritos. Cerveja a vontade
de ir ao banheiro. Mistura e produz... Ansiedade
só comparada com a da criança voraz:

Rasga!
com os dedos,
ainda de pijama,
os pacotes de presentes
brinquedos

Mais avante o jogo esquenta.
Torcida. Calor. Gritaria.
O jogo deixa de ser a brinca e passa a ser a vera.
É quando as crianças não brincam
e todos dormem...

Brinquedos que não brincam vão pra estante. Somem
da memória (o que fica é a vontade de ir ao banheiro).
Abandonados pra sempre... Tornam-se aquilo.

Xixi na cama.
Umidade.
Hipoglois.

Nessa altura do campeonato - ejaculação precoce.
Não adianta dizer o de sempre,
mas saber o que o sempre diz,
me afasta daquilo que sei que sou
O colchão está ao sol.

Na altura que estou às vezes
um tempo tenho pra mim, mas-
turbo a certeza de não me ouvir.
Seja lá o que for... Estou sozinho.

Pensei em ser o que sou. Aquilo
não pode ser superior ao que sou: Isso
sempre cria aquilo. É o que adio
de novo gosto de viver o inesperado
se não fosse assim não adiaria.

Minha vida não precisa vir atrás de mim.
Nem é dessa vida que quero isso
nem aquilo. Sou o que passei a ser.

Sou um macaco qualquer,
que não usa roupa, cheira mal e ejacula xixi.
Não pode perder tempo homo
sapiens sapiens da desigualdades. cria
Riso de tudo. Qualquer coisa: Isso.
Coisa alguma: Aquilo.
Na partida do que sou qualquer
Desafio de ser enquanto não se é.

Na caixinha de surpresa
Joguei
fui juiz, bandeirinha e locutor

Mãos que esculpiram meu nunca. No nunca ficarão.
Estou sempre sozinho. Leite Ninho
Vinho – hóstia hostil
Colo, carinho... sumiu.

Sou o que permiti que esculpissem.
Brinquedo! que tantas vezes desmontou
que se recusa a ir pra estante.

Arte de adiar o gestante
infantil metáfora de criança!
Com sede ao pote se lambuza,
mas não tira da memória o que é.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Isca na Faísca

Isca na Faísca

na raiz
da sua saliva
respiro
em sua chama,
como fogo
numa rocha:
vapor dágua
me alcança.
espaço tempo
diminuto

nas memórias que me inundam.

faz do tempo
um companheiro;
a gritar por esperança.
um combate
fecundo
esconde-se na trincheira
como forma dissoluta
transformando-se ligeira.

misturando pétalas de flores
plantado num rochedo,
como-se fosse enredo
de longínquos tambores

faz do viver sua única isca.
a pesca é uma miragem;
mar e peixe, uma mensagem...
tudo isso é só faísca...

Tudo o tempo todo derrama

Tudo o tempo todo derrama

Quando chega ao fim... Parece tudo como antes
de tudo... Mas uma coisa serei atento:
Esperar é que inventa a paixão
ao mesmo tempo que cultiva a angustia.

Amar não espera. Amor confia além
do mais... É tudo fantasia! Meu amor...
Acima de tudo é todo de uma vez:
Mais intenso... Mas distante...

Se eu soubesse...
que o amor ao chegar no fim
pudesse, mesmo assim, nunca acabar:
Não teria perdido tão pouco tempo amando.
Amaria mais tempo, pois o fim já era inevitável
e estaria, a menos tempo, ensaiando sobre o nunca.

*
no nunca
não existe hipótese

É tudo como antes se
se está atento a tudo.
Fantasia cada vez
mais profunda:

ao lado...
como quem cultiva.
de frente...
quando se divide.
de costas...
quando o quem confia.

*

O drama do nunca
reclama paixão.
Cultiva na gente,
que enfrenta de frente,
o que o tempo proclama. Se
sente na cama
de costas pro medo...
profano e insano
entrega e esfrega
confia e enfia
o invento do amor.

Isto...

o nunca de sempre...
...que acaba com o drama...
...quando derrama.

domingo, 12 de agosto de 2007

AUTOPIA

AUTOPIA

A quanto tempo não via o sol nascendo
atrás da janela do meu quarto. Acendo
Assim, percebi quanto quarto eu tinha,
e quem quarto não tinha.
Quanto tempo eu não me via.
Quanto sol não me havia.

A sombra iluminada da janela,
entre o escurecido e o esclarecido sido,
endoidava cada vez mais o doido distante presente.
Ácido: acido perto da eterna
IDADE: que esclarece o sol nascente
(envelhecido pelo poente óbvio)
Óbvio uso.
Obtuso. Abuso.
Óbito uso.

Não existe história do meu quarto.
Eu só uso:
As janelas, as panelas, as portas.
Existe o sol batendo na janela. Panela
AÇO abrindo e fechando sonhos
Hábitos desse quarto que inventei.
Habitados... Açamos... Reciclamos... Eu sei.
Usei. Ei de ser se crer que sei.
Porque o sol que não me havia,
me acordou com paneladas? Indifere.
ENTE que não vê o mundo simples
MENTE do mundo que mudei
o que agora sentia
a sombra partida
partia iluminada
da janela dela
é lá que eu via:
A utopia.

Em goles

Em goles

Peça por peça no chão... Sorrisos no ar...
Palavra bem dita, bendita, recita.
Suor... Saliva... Lágrimas...
Só a pele desvenda o que é uma pele.

Você parece um envelope, me envolve, envolpe.
Cheia de mim! Envolpe o corpo sob a pele, desaparece.
Parece que desaparece, desparolpe.
Me engole num pileque, engolpe.
Num golpe, a criança aparece. Intranet.
Desaparece que parece, parolpe.

Lá no fundo você me olha e não me esquece, me envelhece.
Porque, portanto, entretanto é o que é... (Tshi) Esquece.
Não me envelhece. – Me envelheço, por isso não me esqueço.
Não se deixe. Eu não me deixo levar pelo que parece.
Viva atrás do que você quer que pareça, cresça.

Livremente firme, olhando seu consciente duvidar. Mente é firme.
Sua dúvida nua, aparece. Desapareço.
Me enlouqueço. É verdade... A dúvida é minha, e
sela a cela nela. Quem é ela?
A carta que não me esconde, me envelhece.
É o gole envolpe o golpe.
Engula-me de novo!

O que quero nem sempre aparece, S.O.S.
Mas o que envolve, certamente, não se esquece, A.B.S.
Sou o que desaparece, e de repente... Aparece, agora sim Internet.

O que é o que é:
Uma carta que não envelhece,
E uma lembrança sempre pelada do que é ser criança.
OBS... Acordei... Você era realmente... Velada,
Penteada... mais do que desejada... Dialética
a mente é mágica, ou ousada?

Sentes, en-
Goles a cria-
da ousadia
do amor:

desaparece.

sábado, 11 de agosto de 2007



ORELHA

Berrante!

Berrante!

Diante de meus olhos distantes
armados de lentes frustradas:
Vemos carne da própria carne
Seguirem o som de um Berrante

Diante... não errante
inegavelmente amantes
– intinerariante.
Meus olhos distantes
armados até os dentes
– soldados
acordados montando a guarda
Lado-a-lado, como só os corpos são capazes

Entrele e ela uma linha entrela
entala numa forma de horizonte – Berrante
Todos beram.
Todos movimentam.
Sangram.
Numa norma.
Revela-se na lente um disfarce.

Espelho, espelho meu existe alguém mais disfarçado do que eu?

O amor me veio como raiva
Mau olhar me via – ria
A lente embaça – racha

Eu era a violência
Eu era a derrubada do xoque
Eu era bastilha no chão – Era o próprio chão
Eu era a comuna de pé
Eu era o assalto – Mãos ao alto!
Eu era o que eu seria
Se meu espelho falasse.

Cale-se idiota!

De pé!
Era essa a linha: um limite
O carvão é diamante
O arrame é farpado, atrasado
Berram todos mutilados

Em guarda!
Toda parte de tudo multi-lados
Diante da linha sou angustia
Do meu lado vou avante

Na brutal
Idade di-
amante, cica
triz agonizante
duas minhas no horizonte
(paralelas cortadas por transversais)

Nos meus olhos estou presente
Cercado pelo atraso. Embaça lente.

Diante dos meus olhos:
sou só amante.
Não sigo nenhum berrante
Assalto tudo – Mascarado.
Um olhar cicatrizante.

Artesanato do Tumulto

Artesanato do Tumulto

Quase um gozo.
Entre um gozo e outro.
No gozo um outro.
Entre o gozo dos outros.
Tudo tumultuado.
Palavras...
queria falar algumas,
mas nada de novo andam dizendo.
Então pensei nas frases,
mas as frases ficaram tão sós.
Outros falam palavras, frases, orações...
Traições repetindo o passado.
Cobradas justamente de nós.
(No dos outros é refresco).

Discordar é preciso.
Viver... não pode ser um gozo.
Calar continua sendo mais fácil.
Aceitar continua sendo mais gostoso.
Tumultuando tudo.

Quando percebi que as coisas estavam iguais,
e vi que as pessoas não estavam iguais,
mas iguais aos que estavam.
Tive uma sensação:
Solidão.
E uma vontade de ficar perto das coisas.
Todas as coisas da realidade.
Porque de fato as pessoas mutaram,
(Parasitas da necessidade).

Entre um seio e outro.
Entre o céu da boca oca
e a língua. A saliva míngua.
A boca seca. A fala peca.

Entre uma fila e outra.
Entrei na fila. Fiquei na fila. Sai da fila.
Filas esperando Sebastião quer ele volte ou não.
Homens e mulheres cansadas
por um lado pela história por outro cordeiros da vitória.
Mães de família, crianças correndo, celulares tocando, lanchando, sussurrando...
Acordando. Idosos (não podem enfrentar as filas). Tudo isso junto.
Tudo isso esperando. Tudo. Menos falando ou ouvindo.
Tudo menos um todo.

Minha fila é mais lenta,
sedenta.
Nos meus sonhos sou sempre eu mesmo,
que eu me lembre...
... tumultuando tudo o tempo todo. O tempo todo tudo tumultuando.

Entre Vênus e Marte.
Parte limite da matéria parte limite da história.
Entre o fogo e a fogueira
entre água e o reflexo.
O escritor e a caveira.
Ser ou não ser es a questão
quer ela venha ou não.
Não há final na fila.

No tumultuado tempo,
tumultuo tudo o tempo todo.
O tempo todo tudo tumultuo.
Para o tempo não há limite.
Para as mulheres e homens pode sobrar o tumultuo.
É tempo de tumultuar o presente tumulto
para o tumulto de agora não tumultuar o futuro.

Tumultu
arei a terra.
MORTOLOGIA
URBANA

Abri

Abri

Ando inquieto sob o que não sei...
Sobre sentimentos que não tenho tempo de sentir...
pois a monotonia do inesperado ainda me confundi.

Tenho pensado pouco sobe todas as coisas,
e muito sobre as coisas mais importantes,
O que sobrevive me inquietando.

Ignoro essa confusão de sentimentos.
Adio a saúde, a segurança e o futuro.
Tenho pouco tempo para fazer o que o tempo me quer.

Amanha amar-
rei um dia inteiro

O dia que se faz
um fim em si mesmo
O dia que se faz
um fim fora de si também.
O dia que não me quer mais pensando.
O dia que escreve o que não pude.
Obrigo a ter tempo.
O tempo me dá o que eu brigo também:
O abrigo

decantando

decantando

Permissão. Encaixe. Engraxe. Enfeite.
Vodca. Graxa. Ardência. Gordura.
Manteiga. Maresia. Lubrificante. Sutura.
Azeite. Edredom. Cola. Leite.

“O que arde cura o que aperta segura.”
sabedoria popular

Não sei mais o que esperava, sei que esteve e me deixou.
(como essa lembrança que não sei do quê),
que o que sei lá que estava ao crescer me completou.
Agora que a vi, sua imagem se apagou.

O que eu quero nem sempre aparece.

Eu nem esperava. Eu só decantava.
Na madrugada uma bota me acordou. No gozo me molhou.
Unhas virgens me arranharam... Eu... perdia a menina.
É... esperei que o dia me fizesse voltar. Só que me amedrontei.
Acho que o futebol, carnaval e um misto de estupidez.

É claro que o tesão me chamou

O que é novo transforma tudo. Não é surpresa...
que o ritmo do trabalho amadurecesse minha rotina,
e criasse, tão covarde quanto o sono, uma disciplina.
Essa mesma que te abate.
Aba abra abracadate - Surdina
b-a-ba abra Abracadabra. Pina-colada
Água e óleo
Alho e óleo
Vinho tinto
Linho branco
Aba e cate os sonhos no liquidificador

Creme de Abacate

Rimas que não dizem. Com sons de desejos. Frações
impróprias despidas de despedidas.
Nudeza, cama e mesa.

Acordar. Descobrir que ao separar eles casaram.
Eu só decantava. Eu saia de casa bem cedo, todos os dias
(hoje eu já saio de noite)
Foi outra surpresa...

A não distinção entre o dia e a noite,
como o mito do nascer da noite. Pandora às avessas...

A saia girando, barriga de fora, cerveja.
Paciência. Saliva. Latência.
A menina me perdendo... dançando.
É... esperei que a noite ela voltasse. Só que se esqueceu.
Acho que amarelinha, pula-corda e pega-pega.
Admito... menina-pega-menino.

Meus sonhos, liquidificados, transformaram-se em tudo:
Polícia e ladrão. Eu me apaixonei várias vezes. Relutei...
como o sereno, agarrado ao chão, preso às coisas da terra.
(as mesmas coisas que vejo quando saio a noite de casa)
Asfalto. Cimento. Engarrafamento. Ciumento.

Percebi a rotina que essa cena criava.

Um dia desses encontrei um antigo amigo meu, que me contou que o dia se casou com a noite
e que uma amiga, na noitada, tinha lhe dito que a noite estava na pista.

Durante esse crepúsculo novas imagens se formam,
e os sonhos de tanto se misturar se separam.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Carta para um fulano, que como eu, tem medo de escrever em uma folha

Carta para um fulano,
que como eu,
tem medo de escrever em uma folha.



como as árvores que perdem suas folhas
são os lobos que uivam pra lua.
São os urubus comendo carne crua,
como os peixes que soltam suas bolhas.

Sorria

Minhas víceras são como carne nua.
Meus galhos... Extensões do olhar.
A pele, nada mais, que ressonar.
Sonho? É tudo que em mim insinua.

Meu coletivo matilha

como a raiz, que o chão comprime,
é o óculos que tempo enguiça,
quando extripa, é lingüiça
e na festa do carnaval, reprime.

Infantaria

Componho. - Quer queira, ou não!
Não é apenas mais um enredo
como a verdade cheia de medo
com lápis e o papel na mão.

Bateria

Existe uma justificação para cada sorriso engajado.
Artilharia
Existe uma inspiração no semblante modificado.
Trincheira

Meu sozinho martírio

Na performance em que sou vencido,
meu secreto medo me fez sentido:

Pois as árvores sempre perdem suas folhas.
Os cachorros sempre uivam pra lua
Urubus sempre comem carne crua.
Os peixes só brincar com as bolhas.

Sós Zinho (ou diminutivo no plural de só)

Sós Zinho
(ou diminutivo no plural de só)

Acordei com uma saudade de quando era inteiro,
e andava pelas ruas cortando caminho por dentro das lojas.
É... eu era um desses donos de si.
(quase que parava nas lojas fingindo interesses)
Juntava meia dúzia de trocados
trocando pernas bêbadas de mim.
esses passos e tanto, foi-se tudo como lembrança.

herança

(quase que com vergonha)
Não era uma lamentação. Mas sonhos. Matérias. Aulas.
Uma ação consciente. Protagodjuvante.

Era tudo em um só instante. Laboratório. Sufocante.
De repente uma vontade de te escrever nossa carta, comum encontro.

Voltarei atrás... Escreverei a carta... E reconhecerei... que é demais,
como poderia do nada escrever.................... te

Mas era uma carta,
que me fez lhe escrever,
como se te me abraçasse
como se te me despisse.
como se te me ouvisse.
como se te me qui s.
como se
como corpo
que se cobra.
como surto
que te prova.

como
.taquicardia.

Dialogo sobre os sonhos.
Papéis máscaras que se empilham sobre nada.
Escorregam enferrujados
Amarrotados lençóis que te arranham.
Misturam pós do tempo.

Ácaros.
Ulceras.

É claro que não estávamos sozinhos...
Mas era como se parte de nós estivéssemos.
Sozinhos com várias partes de sozinhos.

Não confundir compaixão, mas confundi com amor.
De repente, com saudade, não mais com do que isso.
E isso me parece tão com um estranho,
Como se meu último elo com esses sozinhos fossem você.

Eu senti que fui embora. E que não sou mais, mas um...

Eu estava inteiro,
onde muitos deixam seus sozinhos.
Estou inteiro,
onde muitos perdem seus
diminutos
sós.